domingo, 12 de agosto de 2012

Leituras: A Odisséia


A “Ilíada” termina com a morte de Heitor e é na Odisseia e em poemas posteriores que ficamos sabendo o destino dos outros heróis.
A Ira de Aquiles -
François-Léon Benouville (1821–1859)
Tróia não caiu imediatamente à morte de Heitor, mas, recebendo ajuda de novos aliados, ainda continuou sua resistência. Por acaso, Aquiles viu Polixena, filha do rei Príamo, talvez por ocasião da trégua que concedera aos troianos para os funerais de Heitor. nquanto estava no templo de Apolo, negociando o casamento, Páris lançou contra ele uma seta envenenada, que, guiada por Apolo, feriu-o no calcanhar, o único lugar vulnerável de seu corpo.
O corpo de Aquiles, tão traiçoeiramente morto, foi recuperado por Ajax e Ulisses. Tétis aconselhou os gregos a entregarem a armadura do herói àquele de todos os sobreviventes que fosse julgado mais digno de usá-la. Os únicos pretendentes foram Ajax e Ulisses. Foi escolhido um grupo seleto de outros chefes para decidir. A armadura foi oferecida a Ulisses, ficando a sabedoria, assim, colocada acima da bravura, o que levou Ajax ao suicídio.
Tinha-se descoberto, então, que Tróia só poderia ser tomada com a ajuda das setas de Hércules que estavam em poder de Filoctetes. Filoctetes juntara-se à expedição grega contra Tróia. Paris foi à primeira vítima das setas fatais.
Tróia, contudo, ainda resistia, e os gregos começaram a desanimar de conquistá-la pela força e, a conselho de Ulisses, resolveram recorrer a um estratagema. Fingiram estar fazendo preparativos para abandonar o sítio, e uma parte dos navios foi retirada e escondida atrás de uma ilha vizinha. Os gregos construíram, então, um imenso cavalo de pau, que fingiram ser um sacrifício oferecido a Minerva, mas que de fato estava cheio de homens armados. Os troianos levaram o cavalo para a cidade. À noite, os homens armados que se encontravam dentro do cavalo, saíram e abriram as portas da cidade aos seus amigos. A cidade foi incendiada e Tróia completamente vencida.
A Procissão do cavalo espião em Tróia -
Giovanni Domenico Tiepolo, 1773
Helena, a Bela, causadora de tantos morticínios, foi recuperada e voltou aos braços de Menelau. 
Saindo de Tróia, os navios tocaram primeiro em Ismarus, cidade dos ciconianos, onde, numa escaramuça com os habitantes, Ulisses perdeu seis homens de cada navio. Partindo dali, a frota foi castigada por uma tempestade, que a manteve nove dias no mar, até que foi alcançado o País dos Comedores de Lótus, onde Ulisses, depois de fazer aguada, mandou três de seus homens descobrir quem eram os habitantes. Estes acolheram os marinheiros hospitaleiramente e ofereceram-lhes seu próprio alimento, o lótus. O efeito desse alimento era tal que aquele que o ingeria se esquecia inteiramente de sua própria terra e desejava permanecer para sempre naquele país.

Polifemo, o ciclope, 
devora os amigos de Ulisses. 

(Autor desconhecido)
Chegaram, em seguida, ao País dos Ciclopes, gigantes que habitavam uma ilha de que eram os únicos possuidores. Moravam em cavernas e alimentavam-se com o que a ilha produzia e com os produtos de seus rebanhos, pois eram pastores. Ulisses deixou ancorados os navios, com exceção de um, em que foi explorar a Ilha dos Ciclopes, à procura de provisões. Desembarcou com os companheiros, levando uma jarra de vinho para oferecer de presente e, encontrando uma grande caverna, lá entrou. Polifemo, o dono da caverna, chegou, com seu grande olho viu os estrangeiros e perguntou-lhes quem eram e de onde haviam vindo. Ulisses respondeu, com muita humildade, que eram gregos, da grande expedição que, recentemente, tanta glória alcançara na conquista de Tróia, e que se encontravam agora de volta à pátria; terminou implorando hospitalidade, em nome dos deuses. Polifemo não respondeu, mas, agarrou dois dos gregos, que atirou contra a parede da caverna, esmagando-lhes a cabeça. Tratou, então, de devorá-los, com grande deleite, e, após a refeição, dormiu. Ulisses não quis matá-lo pois refletiu que isso equivaleria à destruição inevitável dele próprio e de seus companheiros, pois a pedra com que o gigante havia fechado a entrada da caverna não poderia ser removida por eles que, assim, ficariam irremediavelmente presos. Na manhã seguinte, o gigante apanhou mais dois gregos e devorou-os da mesma maneira que a seus companheiros e saiu da caverna colocando a pedra no lugar. Ulisses preparou um plano para quando ele voltasse. Na volta o Ciclope devorou mais dois companheiro. Depois disso, Ulisses aproximou-se dele e ofereceu-lhe o jarro de vinho, dizendo: — Ciclope, isto é vinho. Prova e bebe depois de tua refeição de carne humana. Polifemo pegou a vasilha e bebeu, e, tendo gostado imensamente, pediu mais. Ulisses deu-lhe mais bebida, com o que o gigante ficou tão satisfeito que prometeu que ele seria o último a ser devorado, e perguntou-lhe o nome, ao que Ulisses respondeu: — Meu nome é Ninguém. Depois da ceia, o gigante deitou-se para descansar e não tardou a adormecer. Ulisses e seus companheiros haviam feito um espeto de madeira, colocou no fogo e acertou o único olho do ciclope. Aos gritos, Polifemo chamou todos os ciclopes que moravam nas cavernas em torno, e os ciclopes perguntaram o que acontecia. — Amigo — respondeu Polifemo —, estou morrendo e Ninguém me feriu. — Se ninguém te feriu — responderam os outros ciclopes — foste ferido por Zeus. Tens de resignar-te. Os ciclopes retiraram-se.
Na manhã seguinte, o ciclope afastou a pedra da entrada, a fim de deixar que o gado saísse para pastar, mas ficou na frente da entrada para os homens não saírem. Ulisses e seus companheiros colocaram as ovelhas nas costas. Quando elas passavam, o ciclope apalpava e sentia a pele em cima, e assim Ulisses e seus homens fugiram.  
A feiticeira Circe -
Giovanni Domenico Cerrini (1609–1681)
A escala seguinte de Ulisses foi a Ilha de Éolo, monarca a quem Júpiter confiara o governo dos ventos, que ele desencadeava ou retinha à vontade. Éolo acolheu Ulisses hospitaleiramente e, por ocasião de sua partida, ofereceu-lhe, dentro de um saco de couro com fechadura de prata, os ventos que poderiam ser prejudiciais ou perigosos, ordenando que ventos favoráveis levassem os barcos rumo à pátria de Ulisses. Por nove dias, os navios velejaram à frente do vento. Os companheiros de Ulisses abriram o saco pensando que ali haviam tesouros e acabaram voltando para o mesmo lugar. Éolo recuou-se a ajudá-los de novo.
Chegaram à Ilha Eana, onde vivia Circe, a filha do Sol. Desembarcando ali, Ulisses subiu a um morro e, olhando em torno não viu sinais de habitação, a não ser em um ponto no centro da ilha, onde avistou um palácio rodeado de árvores. Ao se aproximarem do palácio, os gregos viram-se rodeados de leões, tigres e lobos, não ferozes mas domados pela arte de Circe, que era uma poderosa feiticeira. Todos esses animais tinham sido homens e haviam sido transformados em feras pelos seus encantamentos. Ulisses ficou do lado de fora e um dos seus companheiros também. Do lado de dentro do palácio vinham os sons de uma música suave e de uma bela voz de mulher que cantava. Uma deusa ofereceu-lhes comida e bebida. Os que ali estavam, foram transformados em porcos. Ulisses voltou ao palácio e conseguiu com a ajuda de Atena, conseguiu livrar seus amigos e forçar Circe a ajudá-los. Ela ensinou aos marinheiros o que deveriam fazer para passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias. Circe aconselhou Ulisses a tampar com cera os ouvidos de seus marinheiros, de modo que eles não pudessem ouvir o canto, e a amarrar-se a si mesmo no mastro dando instruções a seus homens para não libertá-lo, fosse o que fosse que ele dissesse ou fizesse, até terem passado pela Ilha das Sereias. Ulisses seguiu estas instruções. Tampou com cera os ouvidos de seus homens e fez com que estes o amarrassem solidamente ao mastro. Ao se aproximarem da Ilha das Sereias, o mar estava calmo e sobre as águas vinham as notas de uma música tão bela e sedutora que Ulisses lutou para se libertar e implorou aos seus homens, por gritos e sinais, que o desamarrassem. Eles, porém, obedecendo às ordens anteriores trataram de apertar os laços ainda mais.
Com a quilha e o mastro flutuando lado a lado, Ulisses formou uma jangada, à qual se agarrou e, tendo o vento mudado, as ondas o levaram à Ilha de Calipso, uma ninfa do mar. Calipso acolheu Ulisses hospitaleiramente, entreteve-o com magnificência, apaixonou-se por ele e procurou retê-lo para sempre, conferindo-lhe a imortalidade. Ele, porém, manteve sua disposição de regressar à pátria, para junto da esposa e do filho. Calipso, afinal, recebeu ordens de Zeus para deixá-lo partir.
Ulisses viajou satisfatoriamente durante muitos dias, até que, afinal, quando já estava à vista da terra, desencadeou-se uma tempestade, que derrubou o mastro e ameaçou fazer soçobrar a embarcação. Nessa situação crítica, ele foi visto por uma ninfa do mar que, compadecida, pousou na jangada, sob a forma de um corvo marinho, e ofereceu-lhe um cinto, aconselhando-o a colocá-lo, pois, se fosse obrigado a se lançar à água, esse cinto o faria flutuar, permitindo-lhe alcançar a terra a nado. Ulisses manteve-se na jangada enquanto esta não se desintegrou e, quando a embarcação não pôde mais suportá-lo, nadou com o cinto em torno do corpo.
Ulisses e Nausícaa, de Michele Desubleo (1602-1676)
Chegou a uma ilha, chamada Esquéria, país dos Feácios. Esse povo morava primitivamente perto dos ciclopes, mas, sendo perseguido por aquela raça de selvagens emigrara para a Ilha de Esquéria, sob a chefia de seu rei, Nausitous. Os feácios dispunham de riquezas abundantes e gozavam a vida livre das ameaças de guerras, pois, como moravam longe dos homens cobiçosos, nenhum inimigo jamais se aproximara de suas praias. A filha do rei da ilha, Nausica, havia sonhado que iria se casar, eis que encontra Ulisses. Ulisses estava nu, cobria suas partes com arbustos. Ao vê-lo, a princesa foi tomada de admiração e não teve escrúpulo em dizer às suas damas que desejaria que os deuses lhe tivessem mandado um marido assim.
Foi em direção a cidade e ficou admirado com o palácio. Ulisses parou em frente a assembleia dos chefes, foi convidado a entrar. Foram colocados diante dele iguarias e vinho, e Ulisses comeu e bebeu. Depois que os convidados saíram e Ulisses ficou a sós com o rei e a rainha, esta perguntou-lhe quem ele era e de onde vinha. Ulisses narrou sua estada na Ilha de Calipso e sua partida de lá; o naufrágio da jangada, como conseguira salvar-se a nado e o socorro que lhe prestara a princesa. O rei e a rainha escutaram com ar de aprovação, e o rei prometeu fornecer um navio para seu hóspede regressar à terra natal. Todos os chefes deram-lhe presentes.
Penélope e os pretendentes - JohnWilliamWaterhouse - 1912
No dia seguinte, Ulisses partiu no navio dos feácios e, dentro de pouco tempo, chegou são e salvo à Ilha de Itaca, sua pátria. Quando o navio chegou à terra, ele estava dormindo. Os marinheiros, sem acordá-lo, levaram-no para a praia, desembarcaram uma arca contendo os presentes que lhe haviam sido oferecidos, depois partiram.
Ulisses estava longe de Itaca há vinte anos e, quando acordou, não reconheceu a terra natal. Atena apareceu-lhe, sob a forma de um jovem pastor, revelou-lhe onde estava e contou-lhe como corriam as coisas em seu palácio. Mais de cem nobres, dali e de cidades vizinhas, vinham pedir a mão de Penélope, sua esposa, julgando-o morto e andavam em seu palácio. Era necessário que ele não fosse reconhecido, para poder vingar-se daquela gente. Assim, Atena o metamorfoseou em um feio mendigo e, como tal, ele foi bondosamente recebido por Eumeu, fiel servidor de sua casa. Seu filho Telêmaco achava-se ausente à procura do pai. Atena avisou que ele deveria voltar. Telêmaco encarou-o com espanto e, a princípio, achou que ele não deveria ser um simples mortal. Ulisses, porém, apresentou-se como seu pai e explicou a mudança de aparência revelando que era devido a Atena.
Entrou no palácio e os outros homens, o trataram mal. Em certo momento, ele revelou sua identidade e matou todos os outros.        

BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis. Trad. David Jardim.Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. 207 a 247. 
Astral de Clio

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