quinta-feira, 26 de julho de 2012

Seção cartas de guerra: "Eu também estive ali!"

"A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?"
(Carta a Stalingrado - Carlos Drummond de Andrade)


As duas guerras mundiais, deixaram registros  que estiveram esquecidos pelos historiadores durante muito tempo.
Cartas¹ foram descobertas e analisadas revelando o dia-a-dia dos soldados em campos de batalha, suas tristezas e ansiedades perante a guerra. 
É bom que seja dito que esta "guerra vista de baixo", nos trás informações e uma nova visão daquela já conhecida por nós.
Uma coisa é imaginarmos o sofrimento de uma guerra, a fome, a tristeza e a saudade. Bem diferente é ler os relatos que só um indivíduo inserido naquele instante, poderia especificar:

“Não sei se voltarei a te escrever mais uma vez, é preciso que esta carta chegue às suas mãos e que fique a saber desde já, para o caso de voltar alguma vez. Perdi as mãos no princípio do mês de dezembro. Na mão esquerda me falta o dedo mínimo, mas o pior é que na direita congelaram os três dedos do meio. Posso pegar um copo com o polegar e o mínimo. Me sinto um inútil. Só quando perdemos os dedos que percebemos para é que servem, mesmo nas coisas mais pequenas. Kurt Hahnke, acho que você conhece, porque iam juntos à escola em 1937, ele tocou a música Passionata num piano, há 8 dias, numa pequena rua paralela à praça vermelha. Não acontece todos os dias, o piano estava literalmente na rua. A casa tinha sido bombardeada, mas o instrumento, talvez por compaixão, tinha sido afastado e colocado no meio da rua. Cada vez que passava um soldado, tocava um pouco. Em que outro lugar do mundo é que se pode encontrar pianos no meio da rua?"
(Cartas de Stalingrado, Coleção Einaudi, 1958. In: A vida no Front)

Em meio a guerra, o amor serve como escudo protetor e chama viva de esperança, embalando o coração destes soldados. Não só de tristezas vive um combatente.
Antonio André e Odette do Valle namoravam há quase um ano quando ele foi mandado para a guerra, em 22 de setembro de 1944.


Itália, 20 de fevereiro de 1945
Querida Odette,

Muitas saudades.
Odette e Major Antonio André. Depois da guerra se casaram
e tiveram uma filha. Fonte: Andrew Carroll.
Odette, recebi hoje mais um telegrama,
que me alegrou muitíssimo, 
pois todas as notícias que eu tiver de ti
serão poucas para o meu pobre 
coração. 
Querida, tenho sonhado muito contigo,
em um dos sonhos o 
mais interessante foi que eu tinha voltado para o Brasil, que a guerra tinha 
acabado e que nós já tínhamos dois garotos,
a quem eu contava as histórias 
e aventuras que estou passando, ao que eles me olhavam orgulhosos de 
terem um pai que tinha sido expedicionário.
Querida, peço-te perdão por te descrever este sonho, 
mas não posso passar sem te contar 
o que eu queria que fosse realidade.
... Ao mais, aceita um apertado abraço e um afetuoso beijo deste que 
te ama do fundo do coração.
André
(Fonte: Cartas do Front Brasileiro. In: Cartas do Front. Zahar, RJ, 2007)



Os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental, encarnaram o espírito de um soldado, proclamando: "Eu estive  ali!"
Após muitos debates sobre o cotidiano da guerra, o dia-a-dia nas trincheiras, eles arriscaram-se a produzir cartas aos seus entes queridos, como se lá estivessem. 

Acompanhem em breve as mais destacadas cartas produzidas por eles.
Só foi preciso um pouco de interferência dos deuses!                                                                                                                                                                                           
                                                                                                                                                                                             
                                                                                                                                                          
                            
1 - Para aqueles que desejam acesso a outras cartas, deixo como dica o livro "Cartas do Front" de Andrew Carroll, pela editora Zahar. Mais informações, acesse o link: http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=1031
Astral de Clio


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