A “Ilíada” termina com a morte de Heitor e é na
Odisseia e em poemas posteriores que ficamos sabendo o destino dos outros
heróis.
A Ira de Aquiles - François-Léon Benouville (1821–1859) |
Tróia não caiu imediatamente à morte de Heitor, mas,
recebendo ajuda de novos aliados, ainda continuou sua resistência. Por acaso,
Aquiles viu Polixena, filha do rei Príamo, talvez por ocasião da trégua que
concedera aos troianos para os funerais de Heitor. nquanto estava no templo de
Apolo, negociando o casamento, Páris lançou contra ele uma seta envenenada,
que, guiada por Apolo, feriu-o no calcanhar, o único lugar vulnerável de seu
corpo.
O corpo de Aquiles, tão traiçoeiramente morto, foi
recuperado por Ajax e Ulisses. Tétis aconselhou os gregos a entregarem a
armadura do herói àquele de todos os sobreviventes que fosse julgado mais digno
de usá-la. Os únicos pretendentes foram Ajax e Ulisses. Foi escolhido um grupo
seleto de outros chefes para decidir. A armadura foi oferecida a Ulisses,
ficando a sabedoria, assim, colocada acima da bravura, o que levou Ajax ao
suicídio.
Tinha-se descoberto, então, que Tróia só poderia ser
tomada com a ajuda das setas de Hércules que estavam em poder de Filoctetes. Filoctetes
juntara-se à expedição grega contra Tróia. Paris foi à primeira vítima das
setas fatais.
Tróia, contudo, ainda resistia, e os gregos começaram
a desanimar de conquistá-la pela força e, a conselho de Ulisses, resolveram
recorrer a um estratagema. Fingiram estar fazendo preparativos para abandonar o
sítio, e uma parte dos navios foi retirada e escondida atrás de uma ilha
vizinha. Os gregos construíram, então, um imenso cavalo de pau, que fingiram
ser um sacrifício oferecido a Minerva, mas que de fato estava cheio de homens
armados. Os troianos levaram o cavalo para a cidade. À noite, os homens armados
que se encontravam dentro do cavalo, saíram e abriram as portas da cidade aos
seus amigos. A cidade foi incendiada e Tróia completamente vencida.
A Procissão do cavalo espião em Tróia - Giovanni Domenico Tiepolo, 1773 |
Saindo de Tróia, os navios tocaram primeiro em Ismarus, cidade dos ciconianos, onde, numa escaramuça com os habitantes, Ulisses perdeu seis homens de cada navio. Partindo dali, a frota foi castigada por uma tempestade, que a manteve nove dias no mar, até que foi alcançado o País dos Comedores de Lótus, onde Ulisses, depois de fazer aguada, mandou três de seus homens descobrir quem eram os habitantes. Estes acolheram os marinheiros hospitaleiramente e ofereceram-lhes seu próprio alimento, o lótus. O efeito desse alimento era tal que aquele que o ingeria se esquecia inteiramente de sua própria terra e desejava permanecer para sempre naquele país.
Polifemo, o ciclope,
devora os amigos de Ulisses.
(Autor desconhecido)
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Na manhã seguinte, o ciclope afastou a pedra da
entrada, a fim de deixar que o gado saísse para pastar, mas ficou na frente da
entrada para os homens não saírem. Ulisses e seus companheiros colocaram as
ovelhas nas costas. Quando elas passavam, o ciclope apalpava e sentia a pele em
cima, e assim Ulisses e seus homens fugiram.
A feiticeira Circe -
Giovanni Domenico Cerrini (1609–1681)
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Chegaram à Ilha Eana, onde vivia Circe, a filha do
Sol. Desembarcando ali, Ulisses subiu a um morro e, olhando em torno não viu
sinais de habitação, a não ser em um ponto no centro da ilha, onde avistou um
palácio rodeado de árvores. Ao se aproximarem do palácio, os gregos viram-se
rodeados de leões, tigres e lobos, não ferozes mas domados pela arte de Circe,
que era uma poderosa feiticeira. Todos esses animais tinham sido homens e
haviam sido transformados em feras pelos seus encantamentos. Ulisses ficou do
lado de fora e um dos seus companheiros também. Do lado de dentro do palácio
vinham os sons de uma música suave e de uma bela voz de mulher que cantava. Uma
deusa ofereceu-lhes comida e bebida. Os que ali estavam, foram transformados em
porcos. Ulisses voltou ao palácio e conseguiu com a ajuda de Atena, conseguiu
livrar seus amigos e forçar Circe a ajudá-los. Ela ensinou aos marinheiros o
que deveriam fazer para passar sãos e salvos pela costa da Ilha das Sereias. Circe
aconselhou Ulisses a tampar com cera os ouvidos de seus marinheiros, de modo
que eles não pudessem ouvir o canto, e a amarrar-se a si mesmo no mastro dando
instruções a seus homens para não libertá-lo, fosse o que fosse que ele
dissesse ou fizesse, até terem passado pela Ilha das Sereias. Ulisses seguiu
estas instruções. Tampou com cera os ouvidos de seus homens e fez com que estes
o amarrassem solidamente ao mastro. Ao se aproximarem da Ilha das Sereias, o
mar estava calmo e sobre as águas vinham as notas de uma música tão bela e
sedutora que Ulisses lutou para se libertar e implorou aos seus homens, por
gritos e sinais, que o desamarrassem. Eles, porém, obedecendo às ordens
anteriores trataram de apertar os laços ainda mais.
Com a quilha e o mastro flutuando lado a lado, Ulisses
formou uma jangada, à qual se agarrou e, tendo o vento mudado, as ondas o
levaram à Ilha de Calipso, uma ninfa do mar. Calipso acolheu Ulisses
hospitaleiramente, entreteve-o com magnificência, apaixonou-se por ele e
procurou retê-lo para sempre, conferindo-lhe a imortalidade. Ele, porém,
manteve sua disposição de regressar à pátria, para junto da esposa e do filho. Calipso,
afinal, recebeu ordens de Zeus para deixá-lo partir.
Ulisses viajou satisfatoriamente durante muitos dias,
até que, afinal, quando já estava à vista da terra, desencadeou-se uma
tempestade, que derrubou o mastro e ameaçou fazer soçobrar a embarcação. Nessa
situação crítica, ele foi visto por uma ninfa do mar que, compadecida, pousou
na jangada, sob a forma de um corvo marinho, e ofereceu-lhe um cinto,
aconselhando-o a colocá-lo, pois, se fosse obrigado a se lançar à água, esse
cinto o faria flutuar, permitindo-lhe alcançar a terra a nado. Ulisses
manteve-se na jangada enquanto esta não se desintegrou e, quando a embarcação
não pôde mais suportá-lo, nadou com o cinto em torno do corpo.
Ulisses e Nausícaa, de Michele Desubleo (1602-1676) |
Foi em direção a cidade e ficou admirado com o
palácio. Ulisses parou em frente a assembleia dos chefes, foi convidado a
entrar. Foram colocados diante dele iguarias e vinho, e Ulisses comeu e bebeu. Depois
que os convidados saíram e Ulisses ficou a sós com o rei e a rainha, esta
perguntou-lhe quem ele era e de onde vinha. Ulisses narrou sua estada na Ilha
de Calipso e sua partida de lá; o naufrágio da jangada, como conseguira
salvar-se a nado e o socorro que lhe prestara a princesa. O rei e a rainha
escutaram com ar de aprovação, e o rei prometeu fornecer um navio para seu
hóspede regressar à terra natal. Todos os chefes deram-lhe presentes.
Penélope e os pretendentes - JohnWilliamWaterhouse - 1912 |
Ulisses estava longe de Itaca há vinte anos e, quando
acordou, não reconheceu a terra natal. Atena apareceu-lhe, sob a forma de um
jovem pastor, revelou-lhe onde estava e contou-lhe como corriam as coisas em
seu palácio. Mais de cem nobres, dali e de cidades vizinhas, vinham pedir a mão
de Penélope, sua esposa, julgando-o morto e andavam em seu palácio. Era
necessário que ele não fosse reconhecido, para poder vingar-se daquela gente.
Assim, Atena o metamorfoseou em um feio mendigo e, como tal, ele foi bondosamente
recebido por Eumeu, fiel servidor de sua casa. Seu filho Telêmaco achava-se ausente à
procura do pai. Atena avisou que ele deveria voltar. Telêmaco encarou-o com
espanto e, a princípio, achou que ele não deveria ser um simples mortal.
Ulisses, porém, apresentou-se como seu pai e explicou a mudança de aparência
revelando que era devido a Atena.
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